Monday, 14 May 2018

Discurso do Papa pela ocasiao dos 50 anos do Caminho Neocatecumenal em Roma

ENCONTRO INTERNACIONAL POR OCASIÃO
DO 50º ANIVERSÁRIO DO CAMINHO NEOCATECUMENAL EM ROMA
DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
Tor Vergata
Sábado, 5 de maio de 2018

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Estou feliz por me encontrar convosco e, convosco, dizer: obrigado! Graças a Deus, e também a vós, sobretudo a quantos fizeram uma longa viagem para estar aqui. Obrigado pelo “sim” que dissestes, por terdes acolhido a chamada do Senhor, a viver o Evangelho e a evangelizar. E dirijo um profundo agradecimento também a quantos começaram o Caminho neocatecumenal, há cinquenta anos.
Cinquenta é um número importante na Escritura: no quinquagésimo dia, o Espírito do Ressuscitado desceu sobre os Apóstolos e manifestou a Igreja ao mundo. Antes ainda, Deus tinha abençoado o quinquagésimo ano: «O quinquagésimo ano será para vós um jubileu» (Lv 25, 11). Um ano santo, no qual o povo eleito teria sentido concretamente novas realidades, como a libertação e o regresso dos opressores para casa: «Anunciareis a liberdade na terra para todos os seus habitantes — oráculo do Senhor — [...] Voltareis todos para as vossas terras e para a vossa família» (v. 10). Eis, depois de cinquenta anos de Caminho, seria bom que cada um de vós dissesse: «Obrigado, Senhor, porque realmente me libertastes; porque na Igreja encontrei a minha família; porque no vosso Batismo passou o que era velho; eis que tudo se fez novo (cf. 2 Cor 5, 17); porque através do Caminho Vós me indicastes a vereda para descobrir o vosso terno amor de Pai».
Caros irmãos e irmãs, no final cantareis o “Te Deum em ação de graças pelo amor e a fidelidade de Deus”. Isto é muito bonito: dar graças a Deus pelo seu amor e pela sua fidelidade. Damos-lhe graças frequentemente pelos seus dons, por aquilo que Ele nos concede, e é bom fazê-lo. Mas é ainda melhor dar-lhe graças por aquilo que é, porque Ele é o Deus fiel no amor. A sua bondade não depende de nós. Qualquer coisa que façamos, Deus continua a amar-nos fielmente. Esta é a fonte da nossa confiança, a grande consolação da vida. Então, ânimo, nunca vos entristeçais! E quando as nuvens dos problemas parecem adensar-se pesadamente sobre os vossos dias, recordai-vos que o amor fiel de Deus resplandece sempre, como sol que não se põe. Fazei memória do seu bem, que é mais forte do que todo o mal, e a dócil recordação do amor de Deus ajudar-vos-á em todas as angústias.
Ainda falta um agradecimento importante: a quantos de vós estais para partir em missão. Quero dizer-vos algo de coração, precisamente sobre a missão, a evangelização, que é a prioridade da Igreja hoje. Porque missão é dar voz ao amor fiel de Deus, é anunciar que o Senhor nos ama e que nunca se cansará de mim, de ti, de nós e deste nosso mundo, do qual talvez nós nos cansemos. Missão significa oferecer aquilo que nós recebemos. Missão é cumprir o mandato de Jesus, que ouvimos, e sobre o qual gostaria de meditar juntamente convosco: «Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações» (Mt 28, 19).
Ide. A missão pede para partir. Mas na vida é forte a tentação de ficar, de não correr riscos, de se contentar, tendo a situação sob controle. É mais fácil permanecer em casa, circundados por quantos nos amam, mas este não é o caminho de Jesus. Ele envia: “Ide!”. Não usa meias-medidas. Não autoriza transferências breves, nem viagens reembolsadas, mas aos seus discípulos, a todos os seus discípulos, diz uma única palavra: “Ide!”. Ide: uma chamada forte, que ressoa em todos os âmbitos da vida cristã; um convite claro a estarmos sempre em saída, peregrinos pelo mundo, em busca do irmão que ainda não conhece a alegria do amor de Deus.
Mas como se faz para partir? É preciso ser ágil, não podemos levar connosco todos os objetos de casa. A Bíblia ensina-o: quando Deus libertou o povo eleito, fê-lo caminhar pelo deserto somente com a bagagem da confiança n’Ele. E, quando se fez homem, Ele mesmo caminhou na pobreza, sem ter onde reclinar a cabeça (cf. Lc 9, 58). E pede aos seus que tenham o mesmo estilo. Para ir, é preciso ser ligeiro. Para anunciar é necessário renunciar. Somente uma Igreja que renuncia ao mundo, anuncia bem o Senhor. Só uma Igreja desapegada do poder e do dinheiro, livre de triunfalismos e clericalismos, testemunha de modo credível que Cristo liberta o homem. E quem, pelo seu amor, aprende a renunciar às realidades que passam, abraça este grande tesouro: a liberdade. Já não permanece preso nos seus apegos, que sempre reclamam algo mais, mas nunca concedem a paz, e sente que o coração se dilata, sem inquietações, disponível a Deus e aos irmãos.
“Ide” é o verbo da missão e diz-nos mais uma coisa: que se conjuga no plural. O Senhor não diz: “Vai tu, depois tu, depois tu...”, mas “Ide”, juntos! Plenamente missionários não são os que partem sozinhos, mas quantos caminham juntos. Caminhar juntos é uma arte a aprender sempre, cada dia. É preciso estar atento, por exemplo, a não ditar o passo aos outros. Ao contrário, é necessário acompanhar e esperar, recordando que o caminho do outro não é idêntico ao meu. Assim como na vida ninguém tem o passo exatamente igual ao do outro, o mesmo acontece também na fé e na missão: vamos em frente juntos, sem nos isolarmos e sem impormos o nosso sentido de marcha, unidos; como Igreja, vamos em frente unidos aos Pastores, a todos os irmãos, sem fugas para a frente e sem nos queixarmos contra aqueles que têm o passo mais lento. Somos peregrinos que, acompanhados pelos irmãos, acompanham outros irmãos, e é bom fazê-lo pessoalmente, com atenção e respeito pelo caminho de cada um e sem forçar o crescimento de ninguém, porque a resposta a Deus somente amadurece na liberdade autêntica e sincera.
Jesus Ressuscitado diz: «Fazei discípulos». Eis a missão. Não diz: conquistai, ocupai, mas “fazei discípulos”, ou seja, partilhai com os outros o dom que recebestes, o encontro de amor que vos transformou a vida. É o âmago da missão: testemunhar que Deus nos ama e que, com Ele, é possível o verdadeiro amor, aquele que leva a oferecer a vida em toda a parte, em família, no trabalho, como consagrados e como casados. Missão é voltar a ser discípulos com os novos discípulos de Jesus. É redescobrir-se parte de uma Igreja que é discípula. Sem dúvida, a Igreja é mestra, mas não pode ser mestra, se antes não for discípula; assim como não pode ser mãe, se antes não for filha. Eis a nossa Mãe: uma Igreja humilde, filha do Pai e discípula do Mestre, feliz por ser irmã da humanidade. E esta dinâmica do discipulado — o discípulo que faz discípulos — é totalmente diferente da dinâmica do proselitismo.
Nisto consiste a força do anúncio, para que o mundo creia. Não são importantes os argumentos que convencem, mas a vida que atrai; não a capacidade de se impor, mas a coragem de servir. E vós tendes no vosso “adn” esta vocação para anunciar, vivendo em família, a exemplo da Sagrada Família: com humildade, simplicidade e louvor. Levai esta atmosfera familiar a muitos lugares desolados e desprovidos de afeto. Deixai-vos reconhecer como amigos de Jesus. A todos chamai amigos e de todos sede amigos.
«Ide, pois e fazei discípulos de todas as nações». E quando Jesus diz todas parece que deseja ressaltar que no seu Coração há lugar para todos os povos. Ninguém está excluído. Assim como os filhos para um pai e uma mãe: não obstante sejam muitos, grandes e pequenos, cada um é amado de todo o coração. Pois quando é doado, o amor não diminui, mas aumenta. E é sempre esperançoso. Como os pais, que não veem antes de tudo os defeitos e as faltas dos filhos, mas os próprios filhos, e nesta luz acolhem os seus problemas e as suas dificuldades, assim fazem os missionários com os povos amados por Deus. Não colocam em primeira fila os aspetos negativos, nem as realidades que devem ser mudadas, mas “veem com o coração”, com um olhar que aprecia, uma abordagem que respeita, uma confiança que tem paciência. Ide assim em missão, pensando em “jogar em casa”. Porque o Senhor é de casa junto de cada povo, e o seu Espírito já semeou antes da vossa chegada. E pensando no nosso Pai, que ama muito o mundo (cf. Jo 3, 16), sede apaixonados de humanidade, colaboradores da alegria de todos (cf. 2 Cor 1, 24), influentes porque próximos, que são ouvidos porque permanecem perto. Amai as culturas e as tradições do povos, sem aplicar modelos predeterminados. Não começai pelas teorias e pelos esquemas, mas pelas situações concretas: assim, o Espírito há de plasmar o anúncio, segundo os seus tempos e os seus modos. E a Igreja crescerá à sua imagem: unida na diversidade dos povos, dos dons e dos carismas.

Estimados irmãos e irmãs, o vosso carisma é uma grande dádiva de Deus para a Igreja do nosso tempo. Demos graças ao Senhor por estes cinquenta anos: um aplauso pelos cinquenta anos! E olhando para a sua fidelidade paterna, fraterna e amorosa, nunca percais a confiança: Ele amparar-vos-á, impelindo-vos ao mesmo tempo a partir, como discípulos amados, rumo a todos os povos, com simplicidade humilde. Acompanho-vos e encorajo-vos: ide em frente! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim, que permaneço aqui!